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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Parte essencial do futuro da construção, a internacionalização dos projetos é o caminho correto a seguir, defende engenheiro de universidade britânica

Segundo Roger Flanagan, esse processo é amplo e todos têm de fazer a sua parte: empresas, governo, órgãos regulatórios e, o mais importante, as pessoas

Por Gustavo Curcio
Edição 238 - Janeiro/2017

ROGER FLANAGAN
Divulgação
Professor na Escola de Gestão e Engenharia de Construção da Universidade de Reading, no Reino Unido, Roger Flanagan é atualmente um dos maiores especialistas do mundo sobre internacionalização de projetos de construção. Presidente do Chartered Institute of Building (2006-2007), o engenheiro já realizou estudos para o desenvolvimento da indústria da construção em diversos países, como Reino Unido, Canadá, Malásia, Suécia, Noruega e Estônia - além de ter trabalhado nos Estados Unidos, na Finlândia e na África do Sul. Expert em internacionalização, Flanagan já foi professor visitante de várias instituições de destaque mundial, como a Universidade de Tsinghua, na China; a Universidade de Hong Kong; a Universidade de Tecnologia da Malásia; a Universidade New South Wales, na Austrália; e a Universidade de Chongqing, na China. Suas áreas de interesse são a internacionalização da construção; a gestão de riscos e custos; e as novas tecnologias para o setor da construção, entre outras. No ano passado, Flanagan esteve no Brasil para participar do Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído - Entac 2016. Realizado em São Paulo, o evento discutiu "Os Desafios e as Perspectivas da Internacionalização da Construção". Nesta entrevista, ele fala dos desafios da indústria da construção e do papel do Brasil nesse processo.
A internacionalização de projetos é uma tendência?
A indústria da construção necessita planejar e moldar ativamente o seu futuro - e a internacionalização é uma parte essencial dele. Somente fazendo isso ela poderá perceber-se como uma indústria de oportunidades crescentes, imparcialidade e prosperidade. Uma indústria que atrairá jovens brilhantes. Ela deve voltar o seu olhar para fora, evitando ser protecionista. Empresas, governo, órgãos regulatórios e, o mais importante, pessoas, todos têm um importante papel nesse jogo.
Qual é o papel do Brasil diante desse fenômeno?
Como nação, o Brasil enfrenta um grande dilema: ir à deriva ao encontro ao futuro ou moldá-lo à sua maneira. O futuro deveria ser baseado em escolha, e não na sorte. Depender das grandes empresas para conquistar trabalhos no exterior também é um problema. O Brasil necessita de uma reviravolta para se alinhar com o que está acontecendo ao redor do mundo.
Qual é a estratégia para se criar uma conexão entre os diferentes profissionais que participam do processo?
Design integrado à produção é a chave do sucesso. Design de alta qualidade e competência de engenharia também são decisivos. O Brasil tem as pessoas, as habilidades, mas precisa de uma nova mentalidade para contar na cena mundial. O país tem a maior indústria de construção da América Latina; e ela tem de ter uma visão mais internacional.
De que maneira os projetos de engenharia podem ser distribuídos no mundo inteiro?
Ir para o exterior não é fácil, mas tornou- se necessário para criar empregos, prosperidade, e para melhorar a imagem da indústria como um todo. Você já se perguntou por que países muito menores, como a Suécia, têm tantas empresas de sucesso que comercializam internacionalmente? Isso ocorre porque criaram em sua visão um ambiente para serem internacionais.
Qual é a maior vantagem desse processo?
O negócio da construção mudou do mundo antigo, cuja visão dava-se apenas pela lente da economia, para um novo mundo, onde fatores sociológicos, tecnológicos, ambientais e políticos têm um papel importante. O ritmo da inovação e da entrega dos projetos mudou; com maior interdependência e desejo de entregar projetos com mais rapidez ao usar as informações mais atuais e a tecnologia da comunicação. A digitalização, a fabricação de produtos em outros locais, a integração de design e produção e o desejo de qualidade melhorada levam a uma indústria melhor.
Dividir um projeto entre vários países possibilita a exploração dos melhores especialistas de cada etapa da concepção?
Competitividade não é um jogo nulo. Um país não melhora a sua competitividade às custas de outros países. A competitividade de um setor da construção está relacionada à produtividade da indústria nacional da construção como um todo, com o capital intelectual, com as competências cruciais, com o empreendedorismo e com as influências de uma nação. O desafio da indústria é criar condições para um crescimento rápido e sustentável. Esse tipo de crescimento vai mudar a competitividade do trabalho gerado pela mão de obra barata e de práticas ineficientes para processos mais eficientes - que exploram a tecnologia com o objetivo de melhorar a performance - e para impulsionar o conhecimento, o capital intelectual e financeiro, e a inovação de empresa e indivíduos.
Que tipo de desafios o Brasil pode enfrentar durante esse processo?
A indústria da construção do Brasil enfrenta desafios tanto no que diz respeito a ela mesma quanto no que diz respeito a uma perspectiva internacional. O apoio do governo seria uma parte importante para o desenvolvimento do setor, mas, na mesma medida, é crucial o desenvolvimento das forças já existentes. A indústria precisa ter uma visão mais positiva, desenvolvendo seu potencial e identificando oportunidades. O Brasil tem muitas qualidades, com designers capacitados e motivados, engenheiros e construtores. Sabe lidar com a diversidade de sua força de trabalho atuando em condições adversas.
"O Brasil enfrenta um dilema: ir à deriva ao encontro ao futuro ou moldá-lo à sua maneira. O futuro deveria ser baseado em escolha, e não na sorte. Depender das grandes empresas para conquistar trabalhos no exterior é um problema"
Qual é a melhor definição sobre o momento que a internacionalização vive?
É uma corrida em direção ao futuro. Uma corrida que requer boas estratégias, e o conhecimento dos influenciadores dessa corrida. Esse conhecimento vai trazer os ingredientes para o sucesso. E, o mais importante, o debate sobre a competitividade necessita se expandir para engajar as pequenas e médias empresas. Não é realista presumir que uma pequena ou média companhia tenha a força financeira, a inclinação e a habilidade de assumir um risco no exterior. É necessário desenvolver um novo modelo que assegure que essas empresas possam se aventurar em uma expansão em outros mercados. O governo tem um importante papel nessa internacionalização, há vários exemplos de sucesso ao redor do mundo em que o Brasil pode se engajar na busca de boas ideias.

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